terça-feira, 28 de maio de 2013

Sedução

                                   
                                                                  CAPÍTULO 3






Lua tinha consciência de que não era um padrão de beleza em relação as mulheres da moda, porém, tendo sido insultada sobre suas roupas, fizera uma tentativa especial de se arrumar o melhor possível para o seu encontro... e provar para Fernando que não era o completo desastre que ele pensava.

Fernando estava andando de um lado para o outro, quando Lua saiu de seu quarto falando:

– Eu me arrumei o mais depressa possível. Você não precisava ficar me esperando. Eu poderia pegar um táxi...

Fernando virou-se ao som da voz dela, e por alguns segundos ficou imóvel, os olhos fixos...



– Que tal estou?– perguntou Lua, nervosa.

– Você fez alguma coisa com seus cabelos?– ele perguntou.

Fernando estava impressionado com aquele corpo incrível dentro do vestido justo. Lua tinha a cintura fina; os seios não eram grandes, mas eram proporcionais ao seu corpo. Ela não era tão alta. Quando ela crescera? Quando havia deixado de ser a adolescente desajeitada e se tornado... Fernando teve de desviar o olhar, porque seu corpo estava respondendo àquela visão.

– Eu apenas soltei meus cabelos.– ela respondeu. Lua sempre os prendia para trabalhar.

– É ótimo saber que você possui alguma coisa além das saias compridas e blusas largas. Esse tipo de traje combina com a nova maneira como você deve se vestir para trabalhar, embora acho que devo repensar sobre o comprimento da saia. - disse Fernando  com seu autocontrole abalado pelas pernas de Lua.

– O que há de errado com o comprimento desta saia? Não é mais curta do que algumas que as outras garotas usam. - Lua disse, imaginando que Fernando a criticava, só aceitando saias justas e curtas em mulheres belíssimas. - De qualquer forma, eu não usaria algo assim para trabalhar. Na verdade, não tenho muitos...

Fernando nem prestou atenção ao que Lua estava dizendo e foi pegando o casaco dela. Estava atordoado, uma reação inexplicável para ele. Lua percebeu sua indiferença e se calou, permitindo que ele lhe ajudasse a vestir o casaco.

– Não tem muitos o quê?– ele perguntou, percebendo que só ouvira a última frase dela.

– Deixa prá lá. Eu só ia dizer que não tenho muitos vestidos. Não havia necessidade de usá-los em Forks quando eu trabalhava no Centro de Jardinagem.

– Eu me recordo de alguns macacões verdes.– Fernando disse, fazendo uma careta.

– Nunca vi você no Centro de Jardinagem.– Lua disse, se sentindo enrubescer.

– E eu nunca estive lá. Eu estou falando de uma noite em que fui buscar minha mãe, que fazia uma visita para a sua. Eu estava dentro do carro e a notei voltando a pé para casa, num macacão verde e botas de operários.

Lua corou, imaginando de como devia ter parecido para ele, indo para casa ainda em seu macacão, botas sujas e cabelos desalinhados. E agora, no escritório de Fernando .. não mais em macacões, mas em suas roupas largas, enquanto todas as outras mulheres usavam roupas justas e elegantes, saltos altos e maquiagem.

– Acho que você não conhece muitas mulheres que usam macacões e botas. - Lua lhe disse, enquanto entrava no carro dele e fechava a porta.
– Nenhuma! – Fernando se virou para ela, quando ligou o carro. - Na verdade, as mulheres que conheço não usariam essas coisas nem mortas.– ele riu.

– É, eu sei...

– Sabe?

– Bem, eu vi o tipo de mulheres com quem você saiu ao longo dos anos... e ainda sai. Não que isso me interesse, é claro, mas quando Glaucia morava em minha casa e você ia visitá-la com uma de suas namoradas, elas pareciam todas iguais. Então, imagino que goste delas muito maquiadas e com roupas sofisticadas.

– Há alguma crítica nessa observação?– Fernando a fitou.

Lua não respondeu.

– Vamos deixar isso de lado. Quero te alertar que você está sendo roubada pelo dono do seu apartamento. Quanto paga por aquele buraco?

– Não é um buraco!– Lua falou, em seguida lhe disse o valor do aluguel.

Fernando deu um gargalhada cínica e disse:

– O homem deve ter percebido seu jeito. Totalmente ingênua. Então, o que ele faz? Cobra um preço exorbitante por um buraco com aquecedor inútil. Logo quando entrei lá, pude ver sinais de umidade suficientes para interditar o prédio inteiro.

– Não é tão ruim assim. Quando está quente, se torna mais confortável. – Lua lhe disse.

– Ah, com certeza.– Fernando disse com ironia. - Você só precisa ficar rezando para que o dia seguinte seja mais quente...

– É, você está certo.– Lua teve que admitir. - Mas quando eu fui olhar o apartamento, o senhorio prometeu que consertaria muitas coisas. Mas o pobre do homem está sem tempo, pois sua mãe está hospitalizada.

Fernando não parava de rir da ingenuidade dela.

– Oh! Pobre senhorio... tem uma mãe doente no hospital e não encontra tempo para resolver os problemas do apartamento...– ele disse com deboche. - Imagino como o pobre desse homem se sentiria se encontrasse uma carta do meu advogado sobre sua mesa, amanhã.

– Você não faria isso!

– Ah, eu faria sim, acredite! – ele falou. - Lua, esse homem é um canalha que está se aproveitando de você. Mais um mês naquele lugar, em pleno inverno, vai te levar para o hospital com pneumonia! É por isso que usa dez camadas de roupas para trabalhar... já se acostumou com isso...

– Eu não uso dez camadas de roupas.– Lua se defendeu.

– Mas entendo. Você não estava preparada para viver numa cidade grande. Cresceu na casa de um Pastor, e passou sua curta vida de trabalho aguando plantas. Não gosto da ideia de ser seu protetor, mas agora sei por que minha mãe quer tanto que eu me preocupe.

– Essa é a coisa mais horrível que você poderia ter me dito.– Lua estava chateada.

– Por quê?– Fernando perguntou.

– Porque...

Lua preferiu não continuar. Na verdade, ela não queria que Fernando a visse como uma garota do interior, ingênua, que precisava ser cuidada por alguém. Queria que ele a visse como uma mulher sexy... ou pelo menos mulher.

– Então? Eu não costumo praticar boas ações, mas estou disposto a mudar minhas regras por você. Deveria se sentir lisonjeada.

– Ninguém se sente lisonjeada ao pensar que é estúpida demais para cuidar de si mesma.– respondeu Lua.

Os olhos dela ardiam, mas não ia sentir pena de si mesma. Ia lembrar que jantaria com um homem atraente, que nunca a teria convidado para sair se a considerasse tão boba quanto Fernando a fazia aparecer.

– Lua, sempre gostei de ser realista.– Fernando falou. - Quando meu pai morreu, e eu voltei para casa e encontrei minha família falida, percebi que tinha duas opções: Poderia ficar deprimido ou lutar para reconquistar tudo.

– Não consigo imaginar você deprimido.

– Eu nunca vou permitir que sentimentos negativos dominem minha vida. – ele lhe disse.

– Gostaria de ser forte como você.– admitiu Lua.

Lua sempre fora retraída. Quando suas amigas, em Forks, estavam começando a usar maquiagem para que pudessem ficar parecidas com as modelos e atrizes, ela não fez o mesmo. Lua achava que o interior da pessoa era que contava, e tentar parecer outra pessoa era perda de tempo. É claro, que essa convicção dela acabou no momento em que foi morar em Seattle. Quando começou a sair com suas colegas de trabalho, percebeu que era um peixe fora d’água com suas roupas nada adequadas para sua idade, para o tipo de lugar onde ia se divertir com elas e muito menos para a cidade em que estava morando. E agora, que tinha um encontro de verdade, decidiu que precisava mudar seu visual. O tubinho preto que vestia, a fazia sentir-se muito exposta porque era relativamente curto e com um decote avantajado.

(...)

Metade do caminho já havia sido percorrido, Fernando pensou que estava na hora de questioná-la sobre aquele encontro. Cada vez mais, tinha a impressão de que Lua era uma inocente nas mãos de algum oportunista.

– Então, quanto ao Mike...

Quando Fernando falou, Lua voltou a realidade. Quase se esquecera de Mike Newton.

– O que que tem?

– Como você o conheceu?– Fernando perguntou.

– Ora, do jeito normal... Num bar.

Aquela era a oportunidade perfeita para provar a Fernando que ela não era tão anormal assim.

– Num bar? Você por uma acaso ficou indo de bar em bar, embriagando-se até se atirar no primeiro homem que aparecesse?

Lua fez um meneio com a cabeça e bufou. Ela já tinha ouvido histórias horríveis de garotas que tinham se encrencado fazendo esse tipo de coisa.

– Você não acha que posso acabar grávida de alguém que nem saberia o nome direito, porque saí e bebi demais, acha?

– Calma... Eu não acho que você seja esse tipo de garota.

– Eu o conheci num bar perto do escritório. Fui lá com algumas colegas de trabalho, estávamos tomando um drique, e o barman levou uma garrafa de champanhe para nossa mesa, dizendo que um homem tinha mandado para mim. Quando olhei ao redor, ele acenou, então se juntou a nós. Ele e eu acabamos conversando bastante.

– Sobre o quê? 

– Ah, muitas coisas. Ele é muito interessante, inteligente. E bonito.

– Estou começando a entender..

– Ele quis saber tudo sobre o que eu fazia, o que é ótimo, porque geralmente, os homens só gostam de falar de si mesmos.

– Hum! Eu não sabia que você era tão experiente.– Fernando disse, erguendo as sobrancelhas.

– Não sou experiente... com homens em Seattle. É claro que já saí com alguns rapazes da minha cidade, e eles costumam falar de esportes e carros. 

Lua deu uma olhada para Fernando  e uma onda de calor percorreu seu corpo. Aquela era a primeira vez que tinha uma conversa de verdade com ele, e estava gostando, por mais que detestasse admitir.

– Sobre o que você fala quando sai com uma mulher?– Lua perguntou, curiosa.

– Normalmente, quando estou com uma mulher, é ela que costuma falar o tempo inteiro.

Na verdade, Fernando mal conversava com as mulheres com quem saía. Ele não tinha interesse em ficar de mãos dadas sobre a mesa de jantar ou compartilhar seus pensamentos com quem ele iria levar para cama. Fernando não era nada romântico.

Finalmente eles chegaram ao restaurante. Fernando novamente tentou comparar a adolescente que ele conhecera em Forks com a mulher que estava ao seu lado, e mais uma vez seu corpo respondeu com uma súbita onda de calor.

Lua não estava pronta para acabar aquela conversa, de modo que, quando ele parou o carro e virou o rosto na sua direção, ela permaneceu onde estava, com os braços cruzados.

– Eu ainda não estou pronta para entrar.

– Nervosa? Não se preocupe... Se ele é tão bonito, inteligente e interessante como disse, tenho certeza de que sua noite será fantástica.

– Eu não estou nervosa por causa do encontro. É... você!

– Do que está falando?

– Você não me disse uma única coisa agradável nessa noite. Sei que nunca teria me empregado para trabalhar na sua empresa. Sei que foi forçado a me ajudar, por achar que deve um favor à minha família, mas podia ao menos tentar ser gentil. Você me disse que eu não sou boa no que faço.

Lua sentia os olhos se encherem de lágrimas. Mas continuou assim mesmo:

– Disse que minhas roupas de trabalho são horríveis, porque não uso aquele "uniforme" de conjuntos apertados e saltos altos, apesar de eu ficar escondida a maior parte do tempo. Você diz que eu não sei me cuidar numa cidade como Seattle, e só falou coisas negativas sobre meu apartamento.

Bella explodiu em sinceridade. Estava magoada e agora as lágrimas escorriam pelo seu rosto. Sentiu um lenço sendo colocado em suas mãos, ela o aceitou e enxugou os olhos.

– Desculpe... desculpe. Eu devo estar nervosa mesmo, você tem razão.– ela disse, tentando se recompor.

Fernando não tinha tempo para choro de mulheres, mas, por algum motivo, a visão de Lua chorando o tocara diretamente. E ouvir o resumo de tudo que ele disse à ela num espaço tão curto de tempo, o deixou desconfortável.

– Sou eu quem deve se desculpar.– falou Fernando.

– Está tudo bem.– Lua sussurrou.

Agora estava desesperada para sair dali. Lua virou o rosto para Fernando e perguntou:

– Estou horrível? Aposto que minha maquiagem borrou. O que ele vai pensar de mim?– Lua eu um sorriso forçado.

– Que você tem olhos incríveis, e está muito linda.– respondeu Fernando com voz rouca.

Nesse momento, a atmosfera mudou, e a eletricidade parecia pulsar dentro do carro. Era como se o mundo tivesse se reduzido ao pequeno espaço entre os dois. Mas Lua se lembrou de que aquele era o homem que não tinha dito uma única palavra boa sobre ela.

– Você não precisa dizer isso só para se redimir.

– Não, eu não preciso.– concordou Edward. - Mas você realmente tem os olhos incríveis. E esse vestido a deixa sexy.

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