CAPÍTULO 1
De repente o telefone começou a tocar, Lua conferiu as horas e decidiu ignorá-lo. Absorta com outros pensamentos, não percebeu o momento em que seu chefe surgira na porta que estava aberta. E assustou-se quando ele falou:
– Eu liguei. Cinco minutos atrás. Você não atendeu.– Fernando Roncato ergueu o punho da camisa para consultar seu relógio. - Não gosto de ficar controlando o horário dos meus empregados. As pessoas que trabalham para mim são bem remuneradas por uma razão.
Os olhos Verdes dele, frios, percorreram a pequena funcionária aconchegada num casaco grosso de cor neutra, que mais parecia ter saído de um brechó qualquer. O que era bem possível, conhecendo-a como a conhecia. Lua corou. É claro que ela ouvira o telefone tocando. É claro que sabia que deveria atender... mas estava com pressa, e trabalhava horas extras quando necessário. Além disso, eram 17h45, e seu horário de trabalho já tinha acabado.
– O fato de você estar aqui como um favor para minha mãe não significa que pode escapar às 17 horas em ponto sempre que lhe convém.– disse Fernando com aquele tom de voz que o tornava tão temível.
– Já passam das 17h30, e eu não estava escapando. - Lua tentou explicar, olhando para o chão com concentração, porque isso era muito menos doloroso do que ter de olhá-lo.
Olhar para Fernando Roncato sempre resultava num coração disparado, e numa sensação de formigamento por todo o corpo. E Lua continuou:
– Mas se é tão importante, eu fico mais um pouco.
Fernando suspirou e se encostou na porta da pequena sala. Desde o começo sabia que o favor para sua mãe daria nisso, mas que escolha tivera?
O escritório de Fernando ficava num edifício luxuoso. Seus funcionários eram altamente qualificados, porém, Lua se destacava de maneira negativa. A filha do Pastor de uma igreja qualquer, de uma cidade pequena, cujas habilidades eram basicamente plantar, cuidar de jardins e cozinhar não pertencia ao seu mundo de negócios, finanças e etc.
– Jhulie já foi embora?– perguntou Lua.
– Sim, ela já foi. E eu preciso que você pegue as informações sobre a negociação que está em andamento, então se certifique de que todos os documentos estão em ordem. O prazo para este é curto, portanto preciso que todos colaborem.
– Não seria melhor... se você conseguisse alguém mais experiente para lidar com um assunto tão importante?– sugeriu Lua com hesitação.
– Eu não estou lhe pedindo que feche o negócio, Lua.– ele disse entediado.
– Entendo isso, mas não sou tão rápida no computador...
– ...quanto a maioria das pessoas no edifício?– completou Fernando com sarcasmo. - Você teve quase 8 meses para se informar do trabalho aqui, e aparentemente fez um curso de 2 meses de informática básica.
Lua se lembrou de quando fizera o tal curso. Demitida do Centro de Jardinagem, ela ficou 3 meses em casa, e, por mais doce que sua mãe fosse, Lua sabia que estava sendo um estorvo para ela e pensou no que sua mãe lhe dissera:
"Você não pode passar o resto de seus dias vagando pela casa e mexendo no jardim. Eu adoro tê-la aqui, mas você precisa de um emprego, e após o falecimento de seu pai 2 anos atrás, minha renda não é suficiente para cobrir nossas despesas. Se não acha que há empregos por aqui, por que não pensa em trabalhar em outro lugar? Talvez em Seattle. Conversei com Glaucia, e ela sugeriu que talvez Fernando lhe empregue na companhia dele. Tudo o que você precisa é fazer um curso de computação...”
Lua sabia que crianças conheciam mais sobre computadores do que ela, afinal, nunca teve um em casa por conta de seu pai ser um Pastor. Sentia-se totalmente ignorante no assunto. Computadores eram inimigos para Lua.
– Sim, eu fiz. Mas não fui exatamente brilhante no curso.– Lua revelou.
– Você nunca conseguirá nada na vida se estiver convencida de que o fracasso sempre a espera. Eu estou lhe dando uma oportunidade de ouro para deixar de ser arquivista e subir de cargo.– disse Fernando.
– Não me importo de arquivar.– disse Lua rapidamente. - Quero dizer, sei que é um trabalho tedioso, mas nunca esperei...
– ... achar o trabalho aqui excitante?– completou Fernando.
Fernando lutou por paciência. Lua era muito tímida e isso o irritava. Podia se lembrar dela adolescente, escondendo-se pelos cantos, sempre envergonhada até mesmo para ter a conversa mais básica com ele. Aparentemente, ela era ótima com as outras pessoas, pelo menos era o que dizia sua mãe. Mas Fernando tinha dúvidas. E agora, ela estava tentando desaparecer dentro do casaco.
– Então?– ele disse, impaciente.
– Eu não acho que nasci para trabalhar num escritório.– Lua disse-lhe com honestidade. -Não que eu não esteja grata pela oportunidade de trabalhar aqui.
O trabalho de Lua consistia em digitar uma carta ocasional e arquivar alguns documentos. Mas no geral, ficava à disposição de Fernando para coisas como levar roupas para a lavanderia, garantir que a geladeira dele estivese bem estocada e etc. Ele não tinha empregados em seu apartamento só para manter sua total privacidade. E Lua era encarregada também em dispensar as mulheres descartadas de Fernando com presentes de despedidas, variando de flores até mesmo diamantes... Tudo isso era tarefa de Jhulie, que foi passado para Lua assim que chegou à empresa. No espaço de 8 meses, dez modelos exóticas tinham recebido o cartão vermelho.
– Entendo que você não teve muita escolha em me empregar aqui.– disse Lua.
– Nenhuma!– concordou Fernando.
– Eu sei... Glaucia e minha mãe podem ser muito persuasivas quando colocam uma coisa na cabeça...
– BLuaa, por que não se senta por alguns minutos? Eu deveria ter conversado com você antes, mas tempo é uma coisa muito rara para mim.
– É, eu sei.– disse Lua, voltando para sua mesa de trabalho e sentando-se.
Fernando inclinou-se sobre a mesa e franziu o cenho.
– Como assim, você sabe?– disse intrigado.
– Sua mãe sempre comentava lá em casa sobre o quanto arduamente você trabalhava, e como raramente a visitava.
– Está me dizendo que vocês ficavam sentadas lá, falando sobre mim?
– Não! É claro que não. – Lua respondeu sem graça.
– Você não tinha nenhum tipo de vida pessoal na sua cidade? Nada melhor para fazer com o seu tempo?
– É claro que eu tinha uma vida!– ou pelo menos tinha, até ser demitida do Centro de Jardinagem. - Eu tenho muitos amigos em Forks. Sabe, nem todos acham a melhor coisa do mundo vir para Seattle na primeira oportunidade e fazer uma fortuna.
– Mas foi isso o que eu fiz, não foi?– Fernando murmurou suavemente. - Caso tenha esquecido, minha mãe estava morando de favor na sua casa. Acho que você concorda que alguém tinha que assumir o controle da situação e restaurar as finanças da família.
– Sim.– Lua baixou a cabeça, mas a ergueu em seguida e por alguns segundos, seus olhos cor de chocolate encontraram os dele.
Fernando a fitava com impaciência.
– O que você vê aqui...– ele gesticulou para mostrar o escritório. - ... é vida real, e, graças a isso, minha mãe pode apreciar o estilo de vida ao qual sempre foi acostumada. Meu pai cometeu muitos erros , e aprendi com todos eles. A lição número 1 é que nada é conquistado sem o empenho de tempo.
Fernando começou a andar pela pequena sala, que era isolada do resto dos escritórios.
– Se você não está gostando do seu trabalho, então só pode culpar a si mesma. Vá ficando por aqui até que outro emprego em jardinagem apareça.
– Eu não estou procurando outro emprego em jardinagem.– Lua mentiu. Já havia procurado, mas não havia nenhum disponível em Seattle.
– Então tente se integrar neste ambiente, Lua. Eu não quero ofendê-la com o que irei falar...
– Então não fale!– Lua o encarou com olhos suplicantes.
Lua sabia que Fernando era o tipo de pessoa sem tolerância para qualquer um. Lembrou do que Glaucia lhe falou a respeito do filho, pouco antes de se mudar para Seattle: “Ele pode ser um pouco assustador.” Mas até começar a trabalhar para ele, não imaginaria o quanto. Havia pouco contato direto com Fernando, porque a maior parte de seu trabalho vinha através de Jhulie, que estava sempre lhe sorrindo e apontava seus erros com gentileza.
Mesmo Lua pedindo para ele não falar, Fernando parou direto à sua frente e continuou:
– Você não pode ser um avestruz, Lua. Se tivesse tirado sua cabeça do chão, teria visto que nos últimos 2 anos o Centro de Jardinagem de Forks estava demitindo seus funcionários. Você poderia ter procurado outro emprego, em vez de esperar a derrota.– Fernando lhe disse rudimente. - Mas não importa. Você está aqui, e está recebendo um bom salário mesmo sem se interessar por absolutamente nada, não é verdade?
Um brilho raro de revolta surgiu nos olhos de Lua, e ela comprimiu os lábios.
– Eu tentarei me dedicar mais.– ela murmurou.
– Sim, e pode começar com a escolha de suas roupas. – disse Fernando
– Como assim?
– Estou lhe dizendo isso para seu próprio bem. Sua escolha de roupas não combina com alguém trabalhando nestes escritórios. Olhe ao seu redor... Vê mais alguém vestida em longas saias e blusas largas?
Lua se viu envolvida numa onda de raiva e vergonha. Ficou se perguntando como podia achar alguém tão atraente e detestá-lo tanto ao mesmo tempo. Como podia ter nutrido uma paixão por esse homem durante todos esses anos?
Quando Glaucia foi morar em sua casa, Lua tivera a chance de ver Fernando quando ele visitava a mãe. E ele sempre a ignorava, como se ela não existisse, mas mesmo assim nunca deixou de ser apaixonada por ele. Lua era invisível para Fernando, um corpo sem formas, seios pequenos. Mas ele sempre foi educado, mesmo não notando a passagem dela de menina para mulher. Mas agora, o comentário dele sobre suas roupas passava dos limites.
– Sinto-me confortável nestas roupas.– Lua disse com voz trêmula. - E sei que você está fazendo um enorme favor em me empregar, mesmo eu não tendo talento para o trabalho de escritório, mas não entendo por que não posso vestir o que quiser. Ninguém importante me vê, eu não participo de reuniões.
Lua se levantou e continuou a falar:
– Se você não se importa, eu gostaria de ir embora agora. Tenho um encontro importante, então, se me der licença...
– Um encontro? Você tem um encontro romântico?– Fernando falou espantado.
Continua...
é adaptada Jane? ou tu q escreve???
ResponderExcluirWeb do jeito q eu gosto capitulo bem grande ueba! Ótima vou acompanhar
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